9 de out. de 2025

A Árvore Falante e o Tesouro Escondido

 


Há centenas de anos, em uma floresta encantada, vivia uma árvore falante de idade tão avançada que suas raízes repousavam nos leitos de rios e lagos, como berços naturais para criaturas mágicas. Tamanha era sua antiguidade que os seres encantadores a reverenciavam como guardiã da floresta.

Certo dia, um caçador de esmeraldas mergulhou nas águas cristalinas e, ao explorar o fundo arenoso, encontrou uma pedra reluzente incrustada em uma raiz antiga. Com destreza, começou a cortá-la, tentando extrair o que parecia ser uma joia preciosa.

Mas a árvore, despertando de seu silêncio ancestral, sugou a pedra e o caçador junto com ela para o seu âmago profundo. Quando a sucção cessou, o caçador abriu os olhos e se viu rodeado por um tesouro imensurável, reluzente como nunca antes imaginado.

Desesperado em busca de uma saída, o caçador começou a golpear a árvore com fúria. Num instante, ela reagiu com voz firme e triste:

Que mal lhe fiz? Você procurava uma pedra, e eu lhe ofereci muitas. E agora, me fere?

Aquelas palavras ecoaram como trovões em sua mente. Tomado pelo pavor, o homem hesitou. Para se convencer de que não estava enlouquecendo, ergueu o facão e golpeou novamente algumas resinas que escorriam pelas entranhas da árvore, como se quisesse provar que tudo aquilo era real.

A árvore, com voz serena e sábia, fez outra pergunta:

— Para que tanta riqueza, se você ignora a passagem do tempo? Aprenda a viver, a saborear os dias enquanto ainda pode.

O caçador, tomado pela arrogância, retrucou:

— Você, um simples vegetal, quer me ensinar a viver? Eu sou livre, sou aventureiro! Você está enterrada, exposta ao sol e à chuva, sem rumo, sem sonhos.

A árvore soltou uma gargalhada tão profunda que fez todas as pedras ao redor vibrarem. Então comentou:

— Pobre homem... conheceu seu avô?

— Não... Mas o que ele tem a ver com isso?

— Olhe no espelho azul e veja parte da vida dele.

O caçador se aproximou, curioso. Ao encarar o espelho, viu refletido um jovem cheio de vigor, cavando a terra com entusiasmo. Cortava galhos frondosos e os amarrava ao caule da árvore, construindo uma barraca rústica. Colhia frutos com cuidado, separava os melhores e lançava os demais ao rio, como se alimentasse a correnteza com generosidade.

O tempo seguiu seu curso, e aquele jovem vigoroso foi perdendo a força, até que a demência o envolveu como névoa. Já não construía com precisão quebrava galhos ao acaso, amarrava os punhos da rede diretamente ao chão, como se tentasse prender o tempo. Sem energia, qualquer fruto que caía ao seu alcance tornava-se um presente raro.

Alimentei-o até seu último suspiro.

Infeliz, pensou tanto nos outros que esqueceu de cuidar de si mesmo. Mas, mesmo assim, ele ainda tinha a mim.

E quantos chegam à velhice sem ninguém por perto... sem sequer um sorriso para aquecer os dias finais.

— Vou devolvê-lo ao leito, cercado por pedras preciosas. A escolha será sua: ignorar a vida ou vivê-la enquanto ainda pulsa em você.

Dou apenas um conselho simples, mas valioso: conheça seus limites. Não se desgaste além do necessário, pois o tempo cobra... e cobra caro.

Seja grato. A tudo, e se possível, a todos. E não se esqueça da natureza, que silenciosamente oferece sombra, frutos e abrigo.

Assim, quando a velhice chegar, não estará sozinho. Os gestos que compartilhou, os momentos que cultivou, serão sua companhia.

As sombras e os frutos que ofereci fizeram de mim uma parceira do tempo. Que você também encontre esse papel não apenas como alguém que vive, mas como alguém que deixa raízes.

Não sabemos qual caminho ele escolheu. Mas a possibilidade de que ele possa ser qualquer um de nós nos convida a viver com mais consciência — amando, compartilhando e deixando de lado a ansiedade pelo futuro.

O tempo, com suas cortinas invisíveis, se abre e se fecha segundo sua própria vontade. E nós, ainda engatinhando no entendimento do que está por vir, seguimos tentando decifrar os mistérios que ele guarda.


"O conhecimento é um farol na escuridão"

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