O Lobo e a Lua




Por entre duas montanhas o velho rio deslizava lentamente, suas águas cristalinas permitiam ver a areia branca e algumas pedrinhas brilhantes existentes no  leito, nas noites de luar parecia mais uma veia de prata cortando a terra. As montanhas de tão altas o tornava invisível em vários trechos, e em um deles, as águas se dividiram para contornar uma enorme pedra prateada para em seguida se juntarem novamente.

Existe uma lenda de que a pedra tinha caído da lua e era um portal misterioso, mas mistério mesmo era o que acontecia sobre ela.

Havia um pequena fenda com uma profundidade imensurável, e que fizesse uma oferenda colocava o ouvido sobre a fenda e como recompensa escutava um conto enigmático. Todas as criaturas que pisavam na pedra, escutavam as boas vindas que saíam da fenda.


Em uma noite de lua cheia um andarilho decidiu pernoitar sobre ela, e assim que colocou os pés, uma voz ecoou: Um conto por uma oferenda.  O andarilho não viu ninguém, mas tinha certeza de onde o som viria. Abriu uma  mochila surrada pelo tempo, pegou uma pequena luneta e olhou atentamente para a abertura existente na pedra.



Só enxergou escuridão, tirou do bolso uma moeda de prata e jogou na fenda, deitou-se e falou baixinho: Quando quiser, pode começar. Ao seu lado surgiu uma sombra mas ele não quis olhar, em seguida começou o conto. Era uma vez um lobo que se apaixonou pela lua, abandonou a matilha e começou a  subir rumo a nascente do rio  na esperança de vê-la bem de pertinho para declarar seu amor. Andou noites e noites, mas quando a manhã chegava ela desaparecia com o claro do dia. O tempo passou, ele cansado e solitário tomou uma decisão, desistiu.

Em uma noite de lua cheia ele subiu nessa pedra, olhou para ela e uivou pela última vez. No auge de seu desespero, rasgou o peito, arrancou o coração e ofereceu a sua amada, ficando com ele erguido até o último momento de sua vida. Em seguida aconteceu um eclipse total, e quando a lua reapareceu, seu corpo havia desaparecido. Uns imaginam que ele tenha deslizado e caído no rio, e outros, que algum mensageiro tenha recolhido o corpo durante a escuridão.


E assim  termina mais uma trágica história de amor, ele não precisava morrer para provar que a amava, se tivesse aceitado as paralelas da vida, talvez ainda estivesse com a matilha para sentir o cheiro da lua dentro da mata. Na realidade desconhecemos os segredos do universo e seus consentimentos para o que julgamos precipitados, mas quem somos nós para julgar o todo poderoso universo.

A. L. Bezerra


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