Chegou o momento que todos temem, mas que ninguém consegue evitar: o ajuste de contas. Não se trata apenas de números em uma planilha ou dívidas acumuladas ao longo do tempo. É o confronto inevitável entre o que fomos e o que deveríamos ter sido., e que somos. E entre tantas dívidas feitas e promessas quebradas, nada passará desapercebido pelo tempo.
Para alguns, o ajuste de contas é silencioso como um olhar no espelho, uma lembrança incômoda, uma conversa adiada por anos. Para outros, é barulhento, dramático, cheio de palavras que cortam mais do que qualquer lâmina. Mas em todos os casos ele exige coragem. Coragem para reconhecer erros, para pedir perdão, para aceitar consequências.
Na vida todos nós deixamos rastros. E mais cedo ou mais tarde esses rastros nos encontram. O ajuste de contas não é punição, é a oportunidade que temos para quitar a dívida. Dizem que o tempo apaga tudo. Mentira. O tempo apenas observa. Silencioso, paciente, ele anota cada deslize, cada palavra dita com veneno, cada escolha feita por egoísmo. E quando menos se espera, ele cobra. Porque para cada pecado, há um castigo, não imposto por deuses ou demônios, mas pela própria vida, que sabe ser justa à sua maneira torta.
O mentiroso perde a confiança que nunca mais recupera. O traidor vive cercado de desconfiança até mesmo quando fala a verdade. O ganancioso conquista tudo mas nunca sente que é suficiente. O orgulhoso morre sozinho, cercado de silêncios que ele mesmo construiu. E o indiferente? Esse é condenado a viver num mundo onde ninguém mais se importa com ele. Não é vingança. É equilíbrio. Não é punição. É consequência.
A vida não precisa levantar a mão para castigar. Basta deixá-lo viver com o peso do que fez. Porque o verdadeiro castigo não vem de fora ele nasce dentro de cada pessoa, cresce no escuro e sussurra à noite, quando tudo está em silêncio. Há quem diga que palavras são apenas sons, vento que passa. Mas quem já foi ferido por uma frase maldita sabe: palavras têm peso. Têm lâmina. Têm veneno.
Vida longa aos devedores, não apenas os que devem dinheiro, mas os que com gestos ou palavras encurtaram vidas, distanciaram a felicidade, e que eles nunca percam a sensibilidade de sentir o peso do que ficou por fazer, Que ouçam, mesmo que em silêncio, o som das cobranças que vêm de dentro: o eco de uma promessa quebrada, o sussurro de um olhar que esperava mais, o grito abafado de uma culpa antiga.
Que um dia, todos possam ouvir não com os ouvidos, mas com a alma, o sussurro cortante da própria consciência. Que ela não seja branda nem gentil, que venha como trovão em noite muda, ou a faca que rasga o véu da mentira. Que cada verdade negada se transforme em um estalo nos ossos, lembrando que o corpo guarda o que a mente tenta esquecer. Que as veias se dilatem, pulsando com a urgência de quem já não pode mais fingir. Que o sangue corra quente, não de raiva, mas de vergonha.de tanta maldade.
Porque há dívidas que não se pagam com dinheiro. Há erros que não se apagam com o tempo. Só o sofrimento aquele que vem do confronto com o que somos, Que cada um sinta o peso do que calou, do que omitiu, do que traiu. Que a dor não seja castigo, mas um caminho. Que a angústia seja ponte, não prisão. E que, ao final, reste apenas o silêncio.
Deus, o Todo-Poderoso, não dorme. Seus olhos atravessam a carne, os muros, os disfarces. Ele vê o que se faz na luz e o que se trama na sombra. E quando chega o tempo, não o nosso, mas o dele, vem o ajuste. Silencioso, certeiro, inadiável. Para cada maldade, uma resposta. Para cada mentira, um espelho. Para cada coração endurecido uma dor que o amoleça. Seja na forma de doença, de perda, de solidão — não como vingança, mas como lição.
Porque o Senhor não castiga por prazer. Ele corrige. Ele cobra sim, mas para despertar. Mas há também misericórdia. Para quem reconhece, para quem se dobra para quem clama com verdade. Porque o mesmo Deus que ajusta, também perdoa. O mesmo que pesa, também alivia. Mas só depois que a alma aprende o que o orgulho e a maldade tentou calar.
"O Conhecimento é um farol na escuridão"
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