27 de nov. de 2025

O Arcano 16

 


O Arcano XVI, representado pela carta A Torre no Tarô, é frequentemente visto com receio devido ao seu poderoso simbolismo de rupturas, colapsos e transformações súbitas. Contudo, dentro do vasto universo das interpretações, essa carta não se limita ao caos: ela anuncia a oportunidade de reconstrução. A Torre nos lembra da importância de derrubar estruturas ultrapassadas, abandonar aquilo que já não serve e abrir espaço para o nascimento do novo.

A Torre, talvez evocando a antiga imagem da Torre de Babel, permanece como símbolo vivo e atuante do caos gerado pela soberba, pelo orgulho e pela ausência de sensibilidade diante da necessidade de reconstrução. O raio que fulmina a Torre, interrompendo seu avanço, surge como um poderoso alerta: ele nos convida a despertar para a capacidade de autoconhecimento, a voltar o olhar para dentro e eliminar tudo aquilo que já não tem utilidade. É o chamado para desapegar de um passado estagnado, sem noção de evolução, e abrir-se à coragem de realizar as mudanças necessárias.

A narrativa da Torre de Babel, conhecida como o “Portão de Deus”, embora para muitos estudiosos seja considerada apenas um mito, encontra-se registrada no capítulo 11 do Gênesis. Erguida na planície de Sinar, entre os rios Tigre e Eufrates, tratava-se de uma imponente construção: uma torre monumental de sete andares e cerca de noventa metros de altura. Seu propósito maior era ousado permitir que a humanidade alcançasse o céu e se tornasse suficientemente poderosa para não depender da divindade.

Segundo a narrativa, Deus percebeu uma arrogância desmedida entre os construtores. Como todos falavam a mesma língua, Ele decidiu criar diferentes idiomas, dificultando a comunicação entre eles. Dessa forma, tornou-se impossível dar continuidade a um projeto marcado pela soberba e pela busca de autoglorificação, ao mesmo tempo em que se reafirmava o desígnio divino de espalhar os povos pela terra.

O Arcano XVI representa o desmoronamento das estruturas conservadoras e já sem utilidade, convocando cada um de nós a erguer novas construções alinhadas às transformações do tempo. Ele nos inspira a desapegar do passado e a enfrentar a realidade com o propósito de reconstruir, porque isso se torna indispensável. Os desafios, nesse contexto, deixam de ser vistos como obstáculos e passam a ser reconhecidos como verdadeiras oportunidades de crescimento.

Esse misto de mudanças drásticas, destruição e reconstrução, adaptação, aprendizado e desafios marcou intensamente o cotidiano dos construtores da Torre de Babel. Eles precisaram se reinventar diante da diversidade de idiomas, explorar novas terras e erguer cidades. Nada para eles foi rotina ou repetição: fizeram o que era essencial lutar, acreditar e conquistar transformando cada obstáculo em oportunidade de superação.

Quanto a nós, não podemos ignorar o chamado do Arcano XVI: nossa torre pode ruir a qualquer instante, mas isso não representa o fim. Ao contrário, talvez seja justamente a necessidade de atravessar mudanças drásticas que nos permita compreender o que deixamos de realizar em nosso melhor potencial. Muitas de nossas ações tornaram-se obsoletas e ficamos presos no tempo. É preciso encarar a destruição como oportunidade de reconstrução, romper paradigmas e abrir caminhos de resistência. E, ainda que seja quase impossível eliminar o medo, podemos ao menos buscar a coragem necessária para iniciar nossa própria renovação.


"O conhecimento é um farol na escuridão"




Um comentário:

  1. A Torre é antes de tudo um processo em andamento, um convite a humildade e a renúncia do que ilusoriamente se julgava seguro!

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